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terça-feira, março 29, 2005

Ainda sem título 

"...esse andar que lhe parecia de uma deusa pisando a terra [...] aquele corpo maravilhoso onde vibrava, sob linhas ricas de mármore antigo, uma graça quente, ondeante e nervosa [...] Sim, era bem uma deusa". Acabara de ler esta passagem d' Os Maias quando me telefonaste. Adequadíssimo.

Deixa falar-te do que me aconteceu.

Sabes o Vermeer? Sim, o pintor...sim, acho que sim, que há aí um filme sobre a menina do brinco de pérola que fala dele, sim...não, não vi...mas..aa...po..pos...posso contar? :P Ok. O que se passa é um pouco estranho e não sei sequer se é real, hoje acordei várias vezes durante a noite a alucinar, a rir imenso, e a ouvir os vizinhos a gemerem na cama quando na verdade eram as gaivotas a despertarem lá fora, mas ainda assim vou contar.

Mal cheguei, há uns quatro cinco dias, fui esperado na estação pelo Trio Odemira, que me raptou, e encontro-me neste momento dentro do tal brinco de pérola, aconchegado, quentinho e num constante balançar. A menina é linda, uma deusa, mas sinto-a distante, eu aqui dependurado na sua orelha sinto-me tão pequenino. Ainda assim sinto constante a sua graça quente tão perto... [Suspiro] Saudades. O melhor é andar de bicicleta à noite, na cidade vazia, por entre os canais, percorrer as ruas desertas, e pensar em ti.

Aqui também há gaivotas como lá. Maresia, sente a maresia. Manda a fumaça do cachimbo para a cachola. Fumo, sabor a maresia, gaivotas aos círculos, ervas daninhas, a lagoa a perder de vista, em diâmetro igual aos limites desta cidade. Conheces "Una Musica Brutal" para dançarmos enquanto fazemos amor? Deixo a janela um bocadinho aberta para entrares, metes-te num avião e vens do deserto até aos canais, dormimos no meu saco cama, brincamos colados, nús, excitamo-nos. Apeteces-me tanto, desejo-te, invejoso...[bebo um trago do café, e saboreio-te em cada grão moído nestes moínhos holandeses]

Após o rapto, ainda que vendado, tenho a percepção de termos andado nos primeiros três dias sempre de um lado para o outro. Viagens de comboio, a pé e de bicicleta. Desde ontem que permanecemos no mesmo sítio. E ainda bem. Gosto de viajar, mas a venda dificulta um bocadinho. Só quando falo contigo sossego. E lembro-me de ti sempre que vejo algo novo bonito. Isto aqui é lindíssimo. Vou contando à Tintim o que se vai passando. Vou ter de ir agora que o roaming é caríssimo. E porque estou com sono. Falamos amanhã. Beijos.

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