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sexta-feira, abril 09, 2004

Notícia de última hora: "Cowboy cantor encontrado em casa a tricotar uma manta!" 

Interessante. Hoje findei de ler um livro dentro do carro, enquanto esperava que me levassem a casa. [Mesmo muito interessante, o livro] Olhei em redor e reparei que a rua em frente, lá ao fundo, me era familiar. [Estive lá ontem, recordei-me] Pessoas bonitas amontoadas esforçam-se por alcançar a fronte do estabelecimento. Saí de lá humilhado, embora ninguém o tivesse notado. Só eu o sentia: observado por todos. Gozado. Desconcentrado. O final do livro não fez qualquer sentido. O desenlace não provocou entusiasmo e lê-lo assim, vislumbrando aquela rua ao fundo, ainda que por visão periférica, anulou todo o prazer possível de obter daquelas páginas. [Merda de "Delfinário" que me barraste a entrada ontem].

Entretanto. "Apesar dos nossos arrufos, apesar da sua má criação, apesar de todo o barulho e todas as caretas que ela fazia, e da vulgaridade, e do perigo, e do horrível desespero de tudo aquilo, eu continuava profundamente embrenhado no paraíso da minha eleição - um paraíso cujo céu tinha a cor das chamas do Inferno, mas que não deixava de ser um paraíso." (Nabokov, "Lolita). Sempre cantando este cowboy...sempre cantando.

Errando à deriva. Deambulando solitário. 60 cêntimos: quanto custa visitar o Jardim Botânico. [Um bilhete por favor] Cuidado com as espécies carnívoras, por detrás de tamanha beleza escondem dentes aguçados tal e qual tubarões. À escala. Tudo à sua respectiva escala. Onde andas? Foste directa para aí ou fizeste escala? Li em qualquer lado sobre as insónias causadas pelo jet lag . Telefonas-me se não conseguires dormir? Adorava saber como estás. [Ou terá sido num filme? Acho que foi isso, num filme, no "Lost In Translation"] Olho as placas penduradas nas árvores, os nomes em itálico: espécies e subespécies e mais espécies e subespécies originárias não sei bem de onde. Diz ali... [Onde é que estou?] O itálico parece-me demasiado inclinado e vejo os nomes assim _______. Horizontais. Tenho saudades. Há demasiada gente aqui a passear. Faz-me espécie. Vou embora por aqui, pela ponte que atravessa o lago sujo de folhas secas. Por ali não que está um casal de namorados aos beijos e é sempre tão incómodo baixar os olhos ao passar por eles. Pela ponte, positivamente! Uma mensagem, uma carta [demasiado romântico para ti, já sei, mas era tão bom que te esforçasses] a dizer se estás a gostar, qualquer coisa.

[Passa-me a manta sff, estou com frio] Coso estes pedaços de tecido à pressa e obtenho uma manta disforme com que me cubro e visto esperando assim disfarçar a minha aparência de campónio, e enganar o frio que me gela por não estares aqui comigo. Pego na guitarra, arranho uns acordes e canto..."Hey babe, take a walk on the wild side and the coloured girls go: Doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo". Mas não estás aqui para me ouvir. Até logo.

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terça-feira, abril 06, 2004

Burgueses e cowboys 

"Um rapaz apaixona-se por uma rapariga, junto da qual passa todo o dia, consumindo a vida na contemplação daquela a quem ama e empregando todos os bens, todas as forças, todas as faculdades para lhe provar que é inteiramente dela. Chega um simples burguês, com experiência da vida, e no gozo da consideração pública, e diz a esse jovem:
- Meu caro senhor, amar é humano, certamente, mas é necessário amar como ama um homem. Divida o tempo, dedique uma parte dele ao trabalho e dê à sua amada somente as horas que lhe sobrarem para recreio. Calcule bem as suas despesas e os seus bens e, se alguma coisa lhe sobrar, não o proíbo de lhe oferecer algum presente, contanto que não o faça frequentemente; por exemplo: no dia dos anos dela, ou no do seu nome e pouco mais."

(Goethe, "Werther")

Existem os burgueses e os cowboys. Bem, no fundo não é bem assim. Mas supondo que é...o nome 'cowboy' integra algo de viril e "muito macho" que na minha perspectiva não faz sentido...viris e muito machos são os burgueses, aqui os cowboys são os outros, os românticos, os que cantam cá de baixo à sua princesa amada lá no alto à janela, os aventureiros fiéis, os que as respeitam. Eu, pelo menos, sou um cowboy cantor e embora compreenda as vantagens de seguir os conselhos do burguês não o consigo fazer quando estou apaixonado. Por isso acho que faz mais sentido chamar cowboys aos apaixonados...aos que não têm medo de aventurarem-se no amor, e que cavalgam, ainda que às vezes sem rédeas, procurando sentirem-se felizes junto de alguém, ou de qualquer coisa.

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segunda-feira, abril 05, 2004

O nome 

Cowboy cantor. Sempre gostei da imagem do Lucky Luke, sempre gostei de me mascarar de cowboy no Carnaval...ainda hoje recordo as minhas poses estudadas defronte da máquina fotográfica que tanto deliciavam a minha mãe [sou eu, um miúdo de 3 anos, mão esquerda segurando o chapéu de abano e mão direita empunhando uma pistola de plástico...o ar severo e carregado da minha cara bolachuda de criança não deixa dúvidas, o brilhar da estrela dourada no peito comprova-o: sou eu o Xerife!]


Cowboy cantor

Sete da manhã de um dia qualquer
Eu não sei aonde estou
Sonhei que tinha um cavalo branco
Mas alguém o roubou

Onde foi a estrela dourada
Que no meu peito brilhou
Terá caído no pó da estrada
Ou alguém a roubou
A roubou

Então eu olhei no espelho
Não sei como aconteceu
O cowboy cantor olhava p'ra mim
Afinal ele era eu
Era eu

Onde está o pôr do sol
Onde possa descansar
No meio desta cidade
Não o consigo encontrar

Onde ficou a justiça
Que se devia aplicar
não pertenço a este mundo
Não consigo aqui ficar

Então eu olhei no espelho
Não sei como aconteceu
O cowboy cantor olhava p'ra mim
Afinal ele era eu...

Era eu, ele era eu


letra: Tim
música: Xutos & Pontapés


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