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domingo, outubro 23, 2011

Cenas da vida quotidiana 


(A cena passa-se à noite, num movimentado bar da capital. Ele está empoleirado no corrimão à porta do bar. Ela passa e ele mete conversa)


Ele: - Então, tudo bem? Tens andado desaparecida…nunca mais te vi por aqui.

Ela: - Uau, não sabia que alguém daria pela minha falta.

Ele: - Eu dei. Este sítio só tem piada quando cá estás.

Ela: - Ah, mentiroso...este sítio é sempre fantástico.

Ele: - Hmmm, tens razão, talvez esteja a exagerar...mas quando cá venho dou por mim a olhar ao redor à tua procura, à espera de te encontrar.

Ela: - Ah, ah..estás a gozar comigo, certo?

Ele: - Nunca brinco com coisas sérias.

Ela: - Estás a deixar-me envergonhada...nós nunca falámos propriamente, nem me lembro do teu nome..

Ele: - É Diogo. E o teu é Inês.

Ela: - Olá Diogo. Com que então deste pela minha falta?!

Ele: - Claro, afinal és a segunda razão pela qual gosto de vir aqui..

Ela: - A segunda? Sabes que não gosto nada de ser o primeiro perdedor...qual é a primeira razão?

Ele: - És tu também.

Ela: - Sou portanto a primeira e a segunda razões para tu aqui vires?!

Ele: - E terceira. Existem outras razões, mas dessas não reza a história.

Ela: - Outras miúdas?

Ele: - Não. A programação, o ambiente, os copos...

Ela: - Dessas não reza a história? Eu diria que são belas razões para aqui vir.

Ele: - Ainda não falei de outras razões que não fossem belas.

Ela: - Ah, ah..estás muito espirituoso.

Ele: - Oh, era inevitável fazer esta piada depois do que disseste...até parecia que me estavas a pedir por favor para a dizer.

Ela: - Ah, agora chamas-me convencida?!

Ele: - Estou a brincar.

Ela: - Pensava que não brincavas com coisas sérias.

Ele: - Só quando as coisas sérias começam a brincar comigo.

Ela: - És muito habilidoso com as palavras, deves estar sempre a praticar com miúdas diferentes...

Ele: - Isso é um desejo ou um receio?

Ela: - Hmm? Agora estou no psicólogo é?

Ele: - Não propriamente...não estou inscrito na Ordem. Mas posso oscultar-te “off the record”.

Ela: - Acho que é auscultar-te que se diz.

Ele: - Hm, adoro aprender coisas contigo.

Ela: - Trouxeste o estetóscopio?

Ele: - Ando sempre com ele...

Ela: - Ok, isto está a tornar-se perigosamente imagético.

Ele: - Perigosamente imagético...mas que escolha de palavras! Assim vou apaixonar-me por ti.

Ela: - Cala-te um bocado, estás a sufocar-me. Que matraca, sempre becos-becos.

Ele: - Posso só dizer mais uma coisa?

Ela: - NÃO! Eheh...diz lá.

Ele: - Sabes de onde provém o caviar?

Ela: - Hm? O caviar? Isso é uma pergunta com rasteira? (Ela empoleira-se no corrimão, ao lado dele)

Ele: - Não, não...mas às vezes gosto de dizer assim umas coisas mais “fora” para dar um arzinho de outsider.

Ela: - Mas olha que não está a resultar. Até agora deste-me sono. Muito.

Ele: - Sabes ou não?

Ela: - O quê?

Ele: - O caviar!!! De onde provém.

Ela: - Sei lá, de um peixe qualquer...e a julgar pelo preço, deve ser um peixe raro.

Ele: - Ovas de esturjão.

Ela: - Ah, muito interessante. Passámos de psicólogo para explorador da BBC – Vida Selvagem. A continuar assim vou adormecer com a tua conversa.

Ele: - Desculpa, não tenho as técnicas sedutoras de conversação aprimoradas. A minha capacidade de dizer coisas muito interessantes esgota-se aqui, com as ovas do esturjão. Acho que vou buscar uma imperial.

Ela: - Olha, traz-me uma.

Ele: - Não pago copos a miúdas.

Ela: - Mas eu não pedi para pagares, ó espertinho. Está aqui o dinheiro. Trazes-me uma sff?

Ele: - Mas assim vou ter de voltar aqui...dar-te a imperial...voltar a falar contigo. Impressão minha ou a conversa afinal não está a dar-te assim tanto sono?!

Ela: - Ah ah, muito engraçadinho. Se estiver a dormir quando regressares não me acordes.

Ele: - Se estiver a demorar muito é porque fui lá para baixo dançar e esqueci-me da tua imperial.

Ela: - Se isso acontecer armo um escândalo e grito que me apalpaste.

Ele: - Que te apalpei? Isso seria bastante maduro da tua parte. Mas novamente, isso é um desejo ou um receio?

Ela: - Não respondo a provocações...

Ele: - Assim vou ficar a pensar que é um desejo...

Ela: - Não ias buscar qualquer coisa para bebermos? Pira-te!


(Ele abandona a cena e vai buscar as bebidas. Ela continua empoleirada)


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