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quinta-feira, dezembro 01, 2011

Amarelo da Carris 



Esta estória desenrola-se na Lisboa dos anos 80, ali para os lados da Assembleia da República, na Rua Poço dos Negros. Dentro de dois ou três minutos, mais coisa menos coisa, o eléctrico 28 irromperá pelo cenário acima, assobiando e colorindo de amarelo este chuvoso dia de Outono.

À pendura, um drogado e um colegial rufia, vêm desde Campo de Ourique encavalitados no degrau da porta traseira do eléctrico, sem pagar bilhete. Lá dentro: duas velhinhas olham-nos e comentam o lamentável estado da mocidade portuguesa, recordando outros tempos; outros colegiais admiram a coragem do rufia caloteiro (e esperam não ser roubados pelo drogado, à saída); dois carteiristas de bigode actuam sintonizados sobre um desprevenido casal de turistas alemães que fotografa maravilhado as varandas alfacinhas e os estendais de roupa.

Uma senhora acaba de entrar numa loja de artigos de decoração e hotelaria, para abrigar-se da chuva que começou a cair mais forte. Trata-se da esposa de um ex-Presidente da República, carinhosamente apelidado de “papa-almoços” pelo seu povo. Ela chama-se Gertrudes Tomásia e é atendida simpaticamente pela Mabilda, escondida atrás de uns óculos fundo de garrafa.

E eis que o amarelo da Carris se anuncia ao fundo da rua, com o seu típico chiar.


(to be continued)




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