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segunda-feira, janeiro 02, 2012

A novidade 

Conheci hoje uma rapariga no chat. Ou melhor, falei com ela, vá, mas ainda durante um par de horas. Isso é “conhecer”, ou não? Tomou ela iniciativa de encetar conversa comigo. (Terá sido uma resolução de novo ano?) Disse-me que me viu há uns dias num bar do Bairro Alto. “A tocar?”, arrisquei, já que tocara no Páginas Tantas na semana anterior. Mas não tinha sido nessa noite. Aparentemente, ela viu-me sentado e alega ter sorrido e cumprimentado ao longe e eu, mal-educado, não terei reagido.

Obviamente que está a mentir, comprovo ao ver as suas fotografias no facebook. É gira. Dá ares de actriz francesa, lábios e nariz finos, olhos expressivos e doces, sorriso irresistível e simpático – é sexy. Claro que teria retribuído o seu cumprimento. Começou bem, com piadas ao meu gosto. Noto-me ansioso e expectante com esta conversa, a possibilidade de conhecê-la, do inesperado em potencial.



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quinta-feira, dezembro 29, 2011

É tempo de arrumar as botas? 

E aconteceu. Peço mais uma cerveja para ajudar a engolir este sapo. Estivemos juntos. Não sozinhos, com um grupo de amigos, mas ainda assim juntos. Da última vez que estivemos sozinhos houve beijos, e foi no teu aniversário. Como se beijos na boca nos aniversários significassem alguma coisa... Desde então só te vi uma vez no Cais do Sodré, na companhia de um moço que não me apresentaste. Presumi que fosse mais que um simples amigo, caso contrário apresentar-mo-ias...presumi mal?!

Hoje senti-te distante. Senti-me distante, aliás. Quase nunca te olhei, porque receei não estivesses a olhar para mim. Deve ser uma questão de habituação. Habituei-me. Hei-de habituar-me também agora. Somos animais de hábitos, ouvi dizer ou vi algures escrito.

Desprendo as tuas fotografias do meu coração, as dos momentos felizes passados em conjunto. Já lá vão uns anos. Temos vivido na sombra desses bons tempos. É tempo de seguirmos a nossa vida. Cada um a sua. Mas chega de conversas tristes. É tempo de celebrar. Brinde aos noivos! Não me posso de esquecer de preparar um texto para apresentar no casamento. Algo que num parágrafo faça rir mas também faça chorar os 180 convidados. Se calhar conto-lhes a nossa história, o que achas?

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quinta-feira, dezembro 15, 2011

Tertúlia 

Entrámos num bar onde só estivera uma vez com uma “amiga". Eles não o conheciam. Lembrei-me daquele sítio porque era acolhedor, não porque fosse cliente habitual. Normalmente sou mais de cirandar por vários bares e ficar fora a ver quem passa, a bebericar um copo e a fumar um cigarro. Mas estava frio e lembrei-me que ali era capaz de ser agradável. E foi. A empregada sentiu-se ofendida quando pedi tremoços para os três. Trouxe três taças de cereais com tremoços até cima. Disse-lhe que era capaz de ser demasiado, ao que ela torceu o nariz e respondeu que não gostava que brincassem com o trabalho dela. Mas que merda, o cliente não costuma(va) ter sempre razão?

À medida que os anos passam, estes encontros também servem para recordar momentos vividos há cada vez mais anos, quando nos divertíamos. Tempos idos em que 3h30 “ainda a noite é uma criança” e tu não bocejavas porque o sono só existia no dia depois. Nessa altura também tu bebias sempre cerveja e tu vinho carrascão porque a bolsa não dava para mais, nem o palato apreciava outros álcoois. Eu continuo a beber cerveja. Brinde aos noivos!

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quinta-feira, dezembro 01, 2011

Amarelo da Carris 



Esta estória desenrola-se na Lisboa dos anos 80, ali para os lados da Assembleia da República, na Rua Poço dos Negros. Dentro de dois ou três minutos, mais coisa menos coisa, o eléctrico 28 irromperá pelo cenário acima, assobiando e colorindo de amarelo este chuvoso dia de Outono.

À pendura, um drogado e um colegial rufia, vêm desde Campo de Ourique encavalitados no degrau da porta traseira do eléctrico, sem pagar bilhete. Lá dentro: duas velhinhas olham-nos e comentam o lamentável estado da mocidade portuguesa, recordando outros tempos; outros colegiais admiram a coragem do rufia caloteiro (e esperam não ser roubados pelo drogado, à saída); dois carteiristas de bigode actuam sintonizados sobre um desprevenido casal de turistas alemães que fotografa maravilhado as varandas alfacinhas e os estendais de roupa.

Uma senhora acaba de entrar numa loja de artigos de decoração e hotelaria, para abrigar-se da chuva que começou a cair mais forte. Trata-se da esposa de um ex-Presidente da República, carinhosamente apelidado de “papa-almoços” pelo seu povo. Ela chama-se Gertrudes Tomásia e é atendida simpaticamente pela Mabilda, escondida atrás de uns óculos fundo de garrafa.

E eis que o amarelo da Carris se anuncia ao fundo da rua, com o seu típico chiar.


(to be continued)




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domingo, outubro 23, 2011

Cenas da vida quotidiana 


(A cena passa-se à noite, num movimentado bar da capital. Ele está empoleirado no corrimão à porta do bar. Ela passa e ele mete conversa)


Ele: - Então, tudo bem? Tens andado desaparecida…nunca mais te vi por aqui.

Ela: - Uau, não sabia que alguém daria pela minha falta.

Ele: - Eu dei. Este sítio só tem piada quando cá estás.

Ela: - Ah, mentiroso...este sítio é sempre fantástico.

Ele: - Hmmm, tens razão, talvez esteja a exagerar...mas quando cá venho dou por mim a olhar ao redor à tua procura, à espera de te encontrar.

Ela: - Ah, ah..estás a gozar comigo, certo?

Ele: - Nunca brinco com coisas sérias.

Ela: - Estás a deixar-me envergonhada...nós nunca falámos propriamente, nem me lembro do teu nome..

Ele: - É Diogo. E o teu é Inês.

Ela: - Olá Diogo. Com que então deste pela minha falta?!

Ele: - Claro, afinal és a segunda razão pela qual gosto de vir aqui..

Ela: - A segunda? Sabes que não gosto nada de ser o primeiro perdedor...qual é a primeira razão?

Ele: - És tu também.

Ela: - Sou portanto a primeira e a segunda razões para tu aqui vires?!

Ele: - E terceira. Existem outras razões, mas dessas não reza a história.

Ela: - Outras miúdas?

Ele: - Não. A programação, o ambiente, os copos...

Ela: - Dessas não reza a história? Eu diria que são belas razões para aqui vir.

Ele: - Ainda não falei de outras razões que não fossem belas.

Ela: - Ah, ah..estás muito espirituoso.

Ele: - Oh, era inevitável fazer esta piada depois do que disseste...até parecia que me estavas a pedir por favor para a dizer.

Ela: - Ah, agora chamas-me convencida?!

Ele: - Estou a brincar.

Ela: - Pensava que não brincavas com coisas sérias.

Ele: - Só quando as coisas sérias começam a brincar comigo.

Ela: - És muito habilidoso com as palavras, deves estar sempre a praticar com miúdas diferentes...

Ele: - Isso é um desejo ou um receio?

Ela: - Hmm? Agora estou no psicólogo é?

Ele: - Não propriamente...não estou inscrito na Ordem. Mas posso oscultar-te “off the record”.

Ela: - Acho que é auscultar-te que se diz.

Ele: - Hm, adoro aprender coisas contigo.

Ela: - Trouxeste o estetóscopio?

Ele: - Ando sempre com ele...

Ela: - Ok, isto está a tornar-se perigosamente imagético.

Ele: - Perigosamente imagético...mas que escolha de palavras! Assim vou apaixonar-me por ti.

Ela: - Cala-te um bocado, estás a sufocar-me. Que matraca, sempre becos-becos.

Ele: - Posso só dizer mais uma coisa?

Ela: - NÃO! Eheh...diz lá.

Ele: - Sabes de onde provém o caviar?

Ela: - Hm? O caviar? Isso é uma pergunta com rasteira? (Ela empoleira-se no corrimão, ao lado dele)

Ele: - Não, não...mas às vezes gosto de dizer assim umas coisas mais “fora” para dar um arzinho de outsider.

Ela: - Mas olha que não está a resultar. Até agora deste-me sono. Muito.

Ele: - Sabes ou não?

Ela: - O quê?

Ele: - O caviar!!! De onde provém.

Ela: - Sei lá, de um peixe qualquer...e a julgar pelo preço, deve ser um peixe raro.

Ele: - Ovas de esturjão.

Ela: - Ah, muito interessante. Passámos de psicólogo para explorador da BBC – Vida Selvagem. A continuar assim vou adormecer com a tua conversa.

Ele: - Desculpa, não tenho as técnicas sedutoras de conversação aprimoradas. A minha capacidade de dizer coisas muito interessantes esgota-se aqui, com as ovas do esturjão. Acho que vou buscar uma imperial.

Ela: - Olha, traz-me uma.

Ele: - Não pago copos a miúdas.

Ela: - Mas eu não pedi para pagares, ó espertinho. Está aqui o dinheiro. Trazes-me uma sff?

Ele: - Mas assim vou ter de voltar aqui...dar-te a imperial...voltar a falar contigo. Impressão minha ou a conversa afinal não está a dar-te assim tanto sono?!

Ela: - Ah ah, muito engraçadinho. Se estiver a dormir quando regressares não me acordes.

Ele: - Se estiver a demorar muito é porque fui lá para baixo dançar e esqueci-me da tua imperial.

Ela: - Se isso acontecer armo um escândalo e grito que me apalpaste.

Ele: - Que te apalpei? Isso seria bastante maduro da tua parte. Mas novamente, isso é um desejo ou um receio?

Ela: - Não respondo a provocações...

Ele: - Assim vou ficar a pensar que é um desejo...

Ela: - Não ias buscar qualquer coisa para bebermos? Pira-te!


(Ele abandona a cena e vai buscar as bebidas. Ela continua empoleirada)


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